12.05.2021

novos horizontes

Começamos a semana na ressaca do eclipse solar total em Sagitário, ocorrido no sábado, dia 4 de dezembro, inaugurando a atual lunação (período entre uma lua nova e outra). Sagitário, nono signo do ciclo do zodíaco representado pelo centauro arqueiro, é associado a abundância, conhecimento, crescimento, reflexão, otimismo. Nada é trivial, tudo pode ser uma oportunidade de aprendizado. Somos convidados a expandir nossa perspectiva, explorar significados, sentir mais inspiração, amplificar o que importa e banir o que é insignificante.

É hora de perseguir novos horizontes. Navegar pela vastidão do mundo, ultrapassando as fronteiras do que para nós é familiar. Ir mais longe — mesmo que mentalmente, se não for possível fisicamente. Isso pode ser feito através da leitura e do estudo, atividades diferentes da rotina, experiências novas. Viajar, inclusive nas instâncias profundas do pensamento. Sagitário traz o arco para perto do coração e dispara suas flechas em alvos além dos limites da imaginação.

Por isso, busquei hoje um mito distante das minhas referências mais próximas para ilustrar o texto da semana (e agradeço à minha amiga Renata pela sugestão e pelos esclarecimentos).

"HouYi disparando uma flecha" (Xiao Yuncong, 1645)
"Chang'E e o elixir da imortalidade" (Yoshitoshi Tsukioka, 1885)

A alegoria chinesa narra a ocasião em que Chang'E 嫦娥 tomou o elixir da imortalidade de seu marido HouYi 后羿, arqueiro lendário, coincidentemente como no mito de Sagitário. A substância, presente da Rainha-Mãe do Oeste, a deusa Xi Wang Mu 王母娘娘 (que em seu jardim cultivava as frutas da imortalidade) foi uma recompensa pelo grande feito do mortal ter destruído com suas flechas 9 dos 10 sóis que queimavam a Terra. Chang'E e HouYi eram muito apaixonados, e decidiram que nenhum dos dois tomaria o elixir, já que os imortais viviam nos céus. Contudo, um discípulo de HouYi tenta roubá-lo e, para impedir a tramoia, Chang'E acaba consumindo a substância. Consequentemente, ela começa a ascender, flutuando, e refugia-se na Lua, tornando-se então uma deusa lunar.

Em algumas cosmogonias da mitologia chinesa que falam da origem dos eclipses, é narrado que TianGou 天狗, cão leal do arqueiro, lambe o que havia restado do elixir e vai atrás dela. Para detê-la, o cão engole Chang'E e o astro. A Rainha-Mãe faz com que o cão cuspa e retorne a deusa lunar e a Lua aos céus, e confere a ele o posto de guarda dos portões celestiais. De tempos em tempos, TianGou engole o Sol e a Lua, fenômeno associado aos eclipses, ocasião em que eram batidos tambores para fazer o cão devolvê-los e assim ser retomada a ordem das coisas. Em mandarim, "eclipse solar" é composto de dois ideogramas 日食, Sol e comer/comida.

Para quem quiser saber mais, recomendo o vídeo "A Deusa da Lua (Chang'E)" do Centro Dao de Cultura Oriental. Há também outras fontes a respeito de TianGou no final do post. Como sempre no âmbito mitológico, há várias versões de cada narrativa, e incentivo o prazer que é descobrir e se aprofundar nessas multiplicidades, principalmente nesse próximo mês lunar sob o signo e os sentidos de Sagitário.

CARTAS DA SEMANA


Fiz a tiragem desta semana orientada por algumas palavras-chave atribuídas a Sagitário.
 


JORNADA - Valete de Espadas

Os valetes, em geral, representam o potencial acumulado e a ação. É uma energia jovem, que deve ser trabalhada, conhecida, explorada, organizada. Qual das possibilidades explorar? No naipe de Espadas, o valete dispõe de muita delicadeza e elegância, dotado de sensibilidade intelectual. Entretanto, o Valete de Espadas precisa encontrar (ou dar) um sentido ao seu conhecimento, uma utilidade prática à sua erudição e assim desenvolver um fim para o dom do intelecto além de si mesmo.

CAMINHO - Ás de Ouros

O Ás de Ouros, primeira carta do naipe relacionado ao elemento Terra, nos fala de riquezas, mas não apenas no sentido material. É uma energia pioneira, coletiva, voltada às relações familiares, financeiras, e a nossa saúde. Ela coloca em foco esses aspectos concretos da existência. Inversamente, é necessário tomar cuidado com a avareza, gastos desnecessários e atos de egoísmo. Ela sugere uma postura de generosidade e receptividade, sempre prezando por um bom julgamento do que é importante.

APRENDIZADO - XVII A Estrela

O arcano 17 do Tarot de Marselha é representado por uma pessoa nua — como as árvores, os pássaros, com nada a esconder, que repousa o joelho no solo, denotando uma conexão com o mundo, com à natureza e seus ciclos. Ela irriga o solo, nutrindo-o. O conceito de fertilidade também é representado na carta pelas frutas nas árvores. É uma carta que trata de boa sorte, inspiração, generosidade (novamente), altruísmo e harmonia. É uma metáfora do encontro de nosso lugar no mundo. Além disso, ela é uma personagem que não abre a mão de viver no presente: o passado e o futuro não a atrapalham.